Nota em resposta às calúnias de militantes do PCdoB/Santa Maria sobre a participação das e dos anarquistas na marcha do 28 de Abril

Santa Maria, RS 30 de Abril

Infelizmente em vez de publicarmos hoje um balanço sobre o histórico 28 de abril em Santa Maria, temos que escrever uma nota para justificar nossa posição coletiva diante das vergonhosas, irresponsáveis e covardes calúnias que nossa ideologia e nossa organização tem sofrido via redes sociais por militantes do PC do B.

Em primeiro lugar queremos adiantar que não somos uma ideologia estranha a esta cidade. No ano do centenário da Greve Geral de 1917, temos que lembrar essa luta decisiva que garantiu boa parte dos direitos que hoje estão ameaçados, para refrescar a memória e evitar que o peleguismo jogue a memória da nossa ideologia e da luta pelos direitos de nossa classe numa lata de lixo. A Greve Geral de 1917 que varreu o país e foi impulsionada majoritariamente por anarquistas que militavam em quase todos os sindicatos classistas existentes e que eram vinculados na época pela COB (Confederação Operária Brasileira), chegou a o Rio Grande do Sul pela militância gaúcha e anarquista da FORGS (Federação Operária do Rio Grande do Sul) paralisando distintas categorias do proletariado da capital, e se estendeu pelo interior do RS graças aos ferroviários de Santa Maria contagiados pelo sopro libertário que exigia entre outras coisas 8 horas de trabalho, salários iguais entre homens e mulheres e fim do trabalho infantil. Portanto o anarquismo não é novidade e nem uma ideologia irresponsável na luta de classes, seja em Santa Maria ou qualquer outro canto do mundo. Ou por acaso alguém desconhece as origens da data simbolo o 1º de maio?

Sobre responsabilidade

A FAG (Federação Anarquista Gaúcha) e a nossa corrente especifista do anarquismo tem um trabalho permanente e militante de 21 anos como organização política no RS, e coordenamos desde 2012 via CAB(Coordenação Anarquista Brasileira), com organizações em pelo menos 10 estados deste país. Localmente temos um labor militante de mais de 5 anos na região central do RS. Mais tempo, diga-se de passagem, que boa parte desses polemicistas de facebook, de filiação partidária no PC do B. Nós atuamos por aqui, neste chão e com esta gente, desde 2011. Entramos nesse território trazidos pela luta pela terra em assentamentos da reforma agrária em São Gabriel onde militamos ombro a ombro com a base assentada tendo que enfrentar o latifúndio, o agronegócio e a burocracia dirigente do combalido MST/RS. Por Santa Maria estivemos desde 2011 em ativa solidariedade aos povos indígenas massacrados pelos governos que vocês compuseram, que entre outras coisas aprovou com ajuda de sua mão suja o atual Código Florestal e paralisou a reforma agrária e a demarcação de terras indígenas.

Desde 2014 atuamos contra a máfia dos transportes e os sucessivos aumentos das tarifas do transporte coletivo, mobilizando pessoas e evitando que a luta pelo acesso a cidade vire trampolim para vereadores se alçarem na política eleitoreira. Por nossa frente estudantil ocupamos juntos aos demais secundaristas as escolas estaduais da cidade, e participamos ativamente da ocupação da UFSM em 2016. Nos últimos anos temos estendido nossas relações entre a juventude trabalhadora da periferia na Zona Oeste e atuando também dentro da luta dos trabalhadores sem-teto. Temos relações que vão da UFSM ao Santo Antão, com um recorde classista e rebelde e que não baixa a cabeça pra patrão, nem pra milico, muito menos pra pelego.

Para discutir então a participação dos anarquistas nos atos é preciso primeiro participar das instâncias. Foi essa não participação que fez com que talvez muitos fossem surpreendidos quando a rebeldia da juventude pobre atingiu as vidraças do famigerado Banco Itaú. Rebeldia que não vem apenas dos anarquistas, mas do acordo coletivo que tramou o ato. Como debocharam alguns, reconhecemos que talvez faltou forças para as pedradas serem mais incisivas. A razão se explica pelo fato de muitos dos que ali estavam, além de estarem de barriga vazia por conta de uma vida de privações, ainda eram os mesmos que desde as 3 horas da manhã vieram de ônibus das vilas da Z.O. e estavam mobilizados para garantir com firmeza o piquete na frente do Expresso Medianeira que, a contragosto de vocês, não foi só pra tirar selfies e gerar hastags. O piquete durou mais de 8 horas por que um grupo organizado e decidido que não era só composto de anarquistas calçou o pé. Indo além, pra discutir a participação dos anarquistas nos atos, é necessário discutir antes algumas unidades fomentadas por aqui que incluem nas marchas policiais civis e militares. Estes “trabalhadores” responsáveis diretos por prender, torturar, encarcerar e matar a juventude pobre, negra e periférica na nossa cidade e combater com o devido rigor o seu protesto. Ou já esqueceram o massacre do 11 de agosto de 2016 onde dezenas de estudantes pobres foram feridos, 9 foram presos e torturados pela BM, e todos seguem sendo investigados pela polícia civil?

Que venha o debate sobre irresponsabilidade. Se uma ação direta deliberada em reunião pela comissão responsável pela marcha e as vaias da juventude mancharam os discursos dos políticos profissionais que bradavam no carro de som palavras vazias que não tinham outro objetivo além de tentar converter a rebeldia das quase 10 mil pessoas mobilizadas em votos em 2018, o problema a ser discutido não é a participação dos e das anarquistas nas marchas, e sim o discurso vazio e o recuo constante das correntes pelegas no interior do movimento popular e sindical. Esse discurso portanto não é somente contra os e as anarquistas. No fundo, é contra todos que ousam enfrentar o sistema de forma direta e sem mediadores profissionais. Partindo disso gostaríamos de salientar para toda a esquerda combativa que temos visto que muitos trabalhadores precarizados e uma parcela significativa da juventude pobre tem notado a ineficácia da burocracia pra barrar o golpe nos direitos. E é com estes que temos a tarefa de nos juntar cada vez mais em instâncias orgânicas para lutar coletivamente e com independência de classe. Se isso assusta alguns setores, o produto é o desespero que ganha forma ventilando calúnias nas redes sociais, tentando isolar os rebeldes.

Reafirmamos por aqui a todos que seguiremos militando todos os dias, junto a trabalhadores, estudantes e oprimidos em geral para tornar a vida da esquerda irresponsável, oportunista e cagueta cada vez mais difícil, assim como a deste governo e de seu sistema.

Não tem arrego, contra o ajuste e a repressão!
É barricada, greve geral, trabalho de base e ação direta que derrubam o capital!
Não tá morto quem peleia!

Federação Anarquista Gaúcha, núcleo Santa Maria
Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira – CAB

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